A política do café com leite/ENEM
A política do café com leite foi um grande acordo nacional, político e econômico que regulou a lógica de poder durante quase toda a Primeira República, também conhecida como República Velha (1889-1930).
O acordo que envolvia as oligarquias estaduais e o governo federal funcionava para manter o controle e o poder nas mãos das elites, grandes proprietários de terras do Brasil.
Na política do café com leite os políticos paulistas e mineiros alternavam-se na cadeira de Presidente da República, por isso o nome do acordo. As economias paulista e mineira eram o café e o leite respectivamente, mantinha-se assim a ordem política e econômica favoráveis à esses Estados mas principalmente aos oligarcas locais.
Outro acordo garantia o funcionamento eficaz da política do café com leite. Mantendo suas autonomias locais os Governadores de Províncias (Estados) mantinham seu apoio ao presidente da República, em troca o Presidente não interferiria no poder provinciano do Governador. A lógica dos dois acordos eram complementares para a manutenção da ordem política e econômica nacional onde apenas as elites agrárias alcançavam o poder político que continuaria girando a favor da manutenção dessas elites políticas no poder.
Oficialmente a política café com leite só tem seu inicio após o período da República da Espada quando dois presidentes militares comandaram as decisões políticas do Brasil. Com o Governo de Campos Sales (1898) considera-se o principio da alternância paulista-mineira na Presidência. Seu antecessor Prudente de Morais (o primeiro presidente civil do Brasil) deixa uma grande crise política e econômica para o paulista Campos Sales que enfrentará a tarefa de estabilizar as relações do Governo Federal com as elites políticas e econômicas das províncias.
Depois de 6 mandatos de presidentes paulistas sucedidos por 3 presidentes mineiros, durando mais de 30 anos esse grande acordo é findado em 1930. Porém mesmo durante o período de vigor do acordo o mesmo passou por momentos de grande tensão, com a cisão momentânea e a entrada de presidentes que não eram do eixo central Minas-São Paulo. Aconteceu essa cisão com a eleição de Hermes da Fonseca (Gaúcho) e Epitácio Pessoa (Paraibano). Em 1909 a candidatura de Hermes da Fonseca é lançada por Pinheiro Machado, grande liderança política do Rio Grande do Sul diante de divergências entre as lideranças mineiras. Já em 1919 a entrada de Epitácio Pessoa é resposta ao afastamento de Delfim Moreira devido a crise econômica e política desdobrada no Brasil em circunstancias da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).
As disputas e crises políticas se agravariam demonstrando o interesse de Províncias menores em participar da lógica de poder até então restrita aos paulistas e mineiros. Do agravamento dessas disputas nasce o movimento revolucionário de 1930 que liderado pela oligarquia do Rio Grande do Sul derruba a República Velha. Em uma ação de rompimento com o acordo, Minas Gerais retira seu apoio ao candidato Julio Prestes indicado pelo então Presidente Washington Luís, ambos paulistas. As oligarquias mineiras passam a apoiar o candidato da oposição Getúlio Vargas, um gaúcho. Julio Prestes, no entanto sai vitorioso do pleito, mas não chega a tomar posse. Getúlio Vargas não convencido com os resultados marcha para o Rio de Janeiro e toma posse da presidência dando início a um governo provisório.
Questões
(ENEM)
1) Até que ponto, a partir de posturas e interesses diversos, as oligarquias paulista e mineira dominaram a cena política nacional na Primeira República? A união de ambas foi um traço fundamental, mas que não conta toda a história do período. A união foi feita com a preponderância de uma ou de outra das duas frações. Com o tempo, surgiram as discussões e um grande desacerto final. (FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2004 [adaptado]).
A imagem de um bem-sucedido acordo café com leite entre São Paulo e Minas, um acordo de alternância de presidência entre os dois estados, não passa de uma idealização de um processo muito mais caótico e cheio de conflitos. Profundas divergências políticas colocavam-nos em confronto por causa de diferentes graus de envolvimento no comércio exterior. (TOPIK, S. A presença do estado na economia política do Brasil de 1889 a 1930. Rio de Janeiro: Record, 1989 [adaptado]).
Para a caracterização do processo político durante a Primeira República, utiliza-se com frequência a expressão Política do Café com Leite. No entanto, os textos apresentam a seguinte ressalva sobre a sua utilização:
a) A riqueza gerada pelo café dava à oligarquia paulista a prerrogativa de indicar os candidatos à presidência, sem necessidade de alianças.
b) As divisões políticas internas de cada estado da federação invalidavam o uso do conceito de aliança entre estados para esse período.
c) As disputas políticas do período contradiziam a suposta estabilidade da aliança entre mineiros e paulistas.
d) A centralização do poder no executivo federal impedia a formação de uma aliança duradoura entre as oligarquias.
e) A diversificação da produção e a preocupação com o mercado interno unificavam os interesses das oligarquias.
2) A oligarquia paulista na época da República Velha era um dos dois pontos de apoio da “política do café com leite”, por conta do grande potencial econômico movimentado pelos fazendeiros produtores de café. É correto dizer que a economia cafeeira paulista dessa época:
a) limitou-se a suprir o mercado interno brasileiro.
b) auxiliou o desenvolvimento industrial do Brasil.
c) não sofreu nenhum impacto com a Crise de 1929.
d) sofreu intensa rejeição por parte do presidente Washington Luís.
e) não tinha grande importância do ponto de vista político.
3) (Fatec) “Cabo de enxada engrossa as mãos – o laço de couro cru, machado e foice também. Caneta e lápis são ferramentas muito delicadas. A lida é outra: labuta pesada, de sol a sol, nos campos e nos currais (…) Ler o quê? Escrever o quê? Mas agora é preciso: a eleição vem aí e o alistamento rende a estima do patrão, a gente vira pessoa.” (Palmério, Mario. VILA DOS CONFINS).
Com base no texto, é correto afirmar que, na República velha:
a) o predomínio oligárquico, embora vinculado à manipulação do processo eleitoral, estava longe de estabelecer qualquer compromisso entre “patrão” e empregados.
b) a campanha eleitoral levada a cabo pelos chefes políticos locais visava a atingir, principalmente, os trabalhadores urbanos já alfabetizados e menos embrutecidos pela “labuta pesada”.
c) a transformação operada no trabalhador durante o período eleitoral representava a marca de um sistema político que estendia o poder dos grandes proprietários rurais, dos “campos e currais”, aos Municípios e, daí, à capital do Estado.
d) o predomínio oligárquico, baseado em favores pessoais, buscava, sobretudo, dissolver os focos de tensão social e oposição política, representados nas diversas formas de organização dos trabalhadores rurais naquele momento.
e) o período eleitoral era o único momento em que os chefes locais se voltavam para os seus subordinados, impondo-lhes seus candidatos e dispensando-os dos trabalhos que “engrossavam as mãos”.
4) A “Política do Café com Leite” tornou-se algo realmente atrelado ao exercício do poder político no Brasil a partir do governo de Campos Sales, como um desdobramento de um pacto maior conhecido como:
a) Política do Feijão com Arroz
b) República da Espada
c) Política dos Governadores
d) Política dos Empresários
e) Revolução Constitucionalista
Resoluções
Questão 1
Letra C
As disputas políticas entre as oligarquias durante a República Velha eram intensas, mas ainda assim o pacto federativo firmado com a “política dos governadores”, proposta por Campos Sales, garantia certa estabilidade ao sistema por meio da alternância entre São Paulo e Minas no poder. As oligarquias de outros estados orbitavam em torno dessas duas.
Questão 2
Letra B
A produção de café nas lavouras paulistas contribuiu para uma expansão econômica que transformou o mercado interno brasileiro, possibilitando o investimento no setor industrial. Isso foi importante para a formação dos grandes centros urbanos do Brasil.
Questão 3
Letra E
A questão refere-se ao fenômeno que estava na base da política do café com leite: o coronelismo. Os líderes locais, chamados de “coronéis”, garantiam que o processo eleitoral durante o período da República Velha atendesse aos interesses das oligarquias regionais. Essa garantia era dada pelos recursos usados contra a população votante, geralmente composta por pessoas social e economicamente dependentes do “coronel”. Entre esses recursos, estava a coerção e a ameaça.
Questão 4
Letra C
A política dos governadores foi articulada pelo governo de Campos Sales a partir de 1898. Essa política tinha em vista reduzir as disputas entre as oligarquias e chegar a um acordo básico entre estados e União (o poder central). Isso era feito pela negociação de recursos, fraude das eleições contra facções regionais que não atendiam aos interesses dos conchavos, entre outras medidas.