Origem do Facismo
A Origem do Facismo: o fascismo é um termo que deriva do movimento fascista que surgiu na Itália, no final da década de 1910, e que ficou caracterizado pelo amplo controle do Estado e pelo autoritarismo.
O fascismo foi um movimento político que surgiu na Itália e assumiu o poder desse país em 1922. O fortalecimento do fascismo italiano, conhecido como fascismo clássico, ocorreu em um cenário de crise econômica, desalento com os resultados da Primeira Guerra Mundial e medo do crescimento do socialismo na Itália.
Ultimamente é bastante comum as pessoas utilizarem a expressão “fascista” em manifestações públicas e postagens pessoais na internet. Acontece que, muitas vezes, o termo é usado de maneira inapropriada e muito genérica. Em razão desse uso incorreto feito pelas pessoas, o termo é comumente associado a toda personalidade que possui uma postura autoritária e violenta.
Ao se falar em fascismo, porém, faz-se menção a um movimento político que surgiu na Itália durante a década de 1910 e que governou o país entre 1922 e 1943. O fascismo na Itália tornou-se um regime totalitário que possuía uma política autoritária, nacionalista e antiliberal e foi liderado por Benito Mussolini, chamado pelos seguidores do fascismo de Duce (líder).
A crítica ao uso do termo “fascista” de maneira indiscriminada, no entanto, não é atual. Em 1944, o escritor britânico George Orwell já fazia críticas de que em seu país (Inglaterra) as pessoas faziam uso do termo sem atentar para o que é fascismo1. A ideia deste texto é trazer um esclarecimento sobre o que é o fascismo, seja o fascismo clássico, isto é, o italiano, seja o que é chamado por cientistas políticos atuais de “neofascismo”, isto é, práticas políticas atuais que se assemelham ideologicamente ao fascismo clássico.
O que realmente é o fascismo?
Definir fascismo não é uma tarefa fácil porque é um sistema político que varia profundamente de um país para outro. A respeito dos obstáculos de se conceituar o fascismo, George Orwell afirma que “mesmo os grandes Estados fascistas diferem em boa medida um do outro em estrutura e em ideologia”2.
A respeito das dificuldades de fazer uma definição do fascismo, é importante também atentar à afirmação do cientista político Chip Berlet3:
“O fascismo é uma corrente política complexa que parasita outras ideologias, possui muitas tensões internas e contradições e possui um aspecto camaleônico que se apropria de símbolos históricos, ícones, slogans, tradições, mitos e heróis da sociedade que deseja mobilizar”. |
Mesmo colocada a dificuldade de se analisar esse conceito, os historiadores e cientistas políticos conseguem fazer uma definição ampla com características que se manifestaram em diferentes regimes fascistas que existiram. Um ponto de partida é identificar a posição do fascismo dentro do espectro político.
O consenso acadêmico entre historiadores e cientistas políticos afirma que o fascismo é uma ideologia política radical do espectro político da direita conservadora. Isso não significa falar que toda prática da direita conservadora é radicalizada e, portanto, fascista. O mesmo vale para a esquerda, uma vez que nem toda política desse espectro político é radicalizada, como aconteceu no Camboja, por exemplo.
A fácil adaptação do fascismo a diferentes contextos políticos e sociais e sua capacidade de se apropriar de elementos de outras ideologias tornam esse conceito complexo, mas não impossível de ser explicado. O fascismo enquanto movimento político e social possui uma retórica populista que ataca assuntos como a corrupção da nação, a falência dos valores morais, faz o levantamento de bodes expiatórios etc.
Nesse contexto citado acima, a retórica populista dos fascistas sempre se aproveita de momentos de crise econômica, social e política. O discurso retórico fascista apresenta soluções fáceis para problemas complexos. Quando alcança o poder, o fascismo assume uma postura autoritária, violenta, hierárquica e com foco nas elites. O populismo fascista defende mudanças radicais no status quo (expressão em latim para referir-se ao “estado atual das coisas”) quando se referem ao sistema político, mas nos privilégios de classe o discurso privilegia a manutenção desse status quo.
Dentro do contexto do período “entreguerras” (entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial), o termo “fascismo” pode ser usado para se referir aos seguintes casos:
1. Ao fascismo clássico, isto é, o movimento fascista surgido na Itália e liderado por Mussolini.
2. A versão alemã do fascismo, com viés mais extremado na questão racial, por exemplo. Estamos fazendo referência ao nazismo, liderado por Hitler.
3. A outros regimes que surgiram nesse período e que se inspiravam ideologicamente no fascismo italiano e/ou alemão. Nesse caso, podemos mencionar o salazarismo, em Portugal, franquismo, na Espanha, e outros regimes fascistas que surgiram na Croácia, Lituânia, Hungria etc.
Neofascismo
Recentemente, entre os especialistas que fazem o debate do conceito, surgiu também a expressão “neofascismo”. Esse termo é usado para fazer menção a regimes e movimentos políticos atuais que possuem características que os aproximam do fascismo clássico. Novamente, é impossível fazer uma relação direta entre movimentos políticos atuais e o fascismo, justamente pelo caráter camaleônico desse movimento, que se adapta a diferentes circunstâncias e contextos.
Algumas características podem ser mencionadas em relação ao neofascismo, tais como:
1. Patriotismo exagerado que assume posturas xenófobas e violentas;
2. Desprezo pelos valores da democracia liberal, como as liberdades individuais;
3. Construção de retórica violenta contra supostos “inimigos internos” que contribuem para a “degradação moral” da nação.
Características do fascismo
Para ampliar a compreensão sobre o fascismo e como o conceito é entendido pelos historiadores, é válido organizar algumas das características que explicam em partes o fascismo clássico, ou seja, o fascismo italiano:
1. A defesa de um sistema político baseado no unipartidarismo, no qual o próprio partido fascista é a única força política atuante;
2. Culto ao líder do partido e defesa da ideia de que ele é o único capaz de solucionar os problemas da nação;
3. Controle total do Estado sobre assuntos relativos à economia, política e cultura;
4. Mobilização das massas a partir de retórica populista;
5. Exaltação de valores tradicionais e crítica a tudo taxado como “moderno”;
6. Desprezo pelos valores liberais, como a democracia representativa;
7. Desprezo por valores coletivistas, como o socialismo e o comunismo;
8. Ataque à política tradicional, afirmando que ela não é capaz de solucionar os problemas da nação.
O que foi o fascismo italiano?
O termo fascismo tem origem na expressão do movimento criado por Benito Mussolini chamado de Fasci Italiani di Combattimento. O termo “fasci” é uma menção a um símbolo do Império Romano – um feixe de hastes de madeira com um machado no centro. Isso, inclusive, fazia parte da ideologia mitificada do fascismo: um destino imperial e glorioso para a cidade de Roma.
Mussolini começou sua carreira política na militância de um núcleo socialista italiano, mas acabou sendo expulso do movimento socialista quando publicou um artigo em 1914 defendendo a participação da Itália na Primeira Guerra Mundial. Os socialistas italianos da época eram rigorosamente contrários à participação do país na guerra.
Após se desvincular do socialismo italiano, Mussolini começou a desenvolver um forte discurso nacionalista. Esse discurso nacionalista de Mussolini começou a ganhar adeptos, particularmente, entre as classes conservadoras italianas. Um grupo que passou a dar grande apoio para o fascismo foi o dos proprietários de terras nas regiões centrais da Itália. O fortalecimento do fascismo relacionou-se diretamente com o fortalecimento dos socialistas na Itália entre 1919 e 1920.
Foi nesse momento que a organização Fasci Italiani di Combattimento tornou-se um partido político de fato e assim surgiu o Partido Nacional Fascista. A ideia dos fascistas era tomar o poder da Itália a partir da via eleitoral, mas também por meio de atos violentos contra os opositores, especialmente contra os socialistas.
O uso da violência pelos fascistas contra os socialistas recebeu forte apoio de diversas camadas da sociedade italiana. O objetivo, conforme mencionado, era intimidar e enfraquecer o socialismo enquanto movimento social e político. A violência do fascismo italiano estava muito ligada com um forte militarismo e uniformização de seus partidários a partir de milícias conhecidas como camisas negras.
Apesar de destacado em outro momento do texto, vale citar novamente algumas das características da ideologia fascista liderada por Mussolini conforme destacou o escritor Umberto Eco: a existência de um líder carismático e amparado por uma forte retórica, a construção de um sistema político baseado no corporativismo, a defesa utópica de um destino glorioso e imperial para Roma, uma defesa do imperialismo para expansão territorial da Itália, rejeição da democracia, antissemitismo etc.
A ascensão de Mussolini na sociedade italiana foi tamanha que determinados grupos passaram a defender que o Duce fosse transformado em primeiro-ministro italiano. Nesse contexto, aconteceu a Marcha sobre Roma, em 28 de outubro de 1922. Nesse dia, milhares de fascistas de diferentes partes da Itália marcharam na direção de Roma. O objetivo era pressionar o rei Vitor Emanuel III a empossar Mussolini como primeiro-ministro. Muitos fascistas que se deslocaram para Roma encontraram facilidades como passagens para transporte em valores mais acessíveis que o normal.
Mussolini foi empossado primeiro-ministro e foi autorizado pelo rei a convocar uma nova base de governo. A posse de Mussolini foi bem aceita entre conservadores e monarquistas, os grupos que mais apoiavam o fascismo.
A partir desse momento, Mussolini realizou ações que o levaram a controlar totalmente o Estado italiano. O modelo que se desenvolveu na Itália serviu de inspiração para movimentos em toda a Europa. Grupos fascistas surgiram em diversas nações, como Croácia (fazia parte da Iugoslávia), Hungria, Lituânia, Romênia, Espanha etc. O fascismo só caiu na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, quando a resistência interna aliada à luta dos Aliados (países que se opuseram à Alemanha, Itália e Japão) causou a queda desse regime.
Fonte: MundoEducação